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As “Amazônias” do Musée des Confluences, em Lyon
- Duda Tawil, texto e foto, de Lyon, França
É pleno verão francês e a Temporada-Saison França-Brésil continua firme e forte no moderníssimo Musée des Confluences, em Lyon, terceira maior cidade francesa, a 1h50 da capital pelo TGV (trem-bala), com a exposição temporária Amazonies ou “Amazônias”, no plural, por abordar os múltiplos prismas pelos quais podemos enxergar a Amazônia.
Inaugurada em 18 de abril passado, ela segue até 8 de fevereiro de 2026, no contexto da manifestação que celebra, neste 2025, os 200 anos das relações bilaterais entre la França e(t) o Brésil.
O Museu das Confluências se acha, como o seu bonito nome já indica, no ponto de encontro de dois grandes rios que atravessam a bela e importante Lyon: o Ródano e o Saône. Inaugurado em 2014, abriga coleções de museus lyonnais que não mais existem, ou melhor, se fundiram. Ele é o Museu de História Natural, Antropologia, Etnologia e das Civilizações, da região francesa de Auvergne-Rhône-Alpes.
Sua arquitetura arrojada, como um cristal transparente sobre uma pedra, uma estrutura monumental feita de vidro e aço, é um prédio de estilo desconstrutivista, no bairro, também moderno, no 2° distrito de Lyon, chamado La Confluence.
O museu vai da pré-História à época contemporânea, a contar a história da humanidade e do ser vivo, os mundos animal, vegetal e mineral, aberto aos horizontes do mundo: em outras palavras, é a natureza, a ciência e a cultura de mãos dadas. Situado, portanto, na confluência geográfica e natural, ele transmite uma noção de fluidez, de movimento e de mistura. As águas fluviais, a partir dali, rumam juntas por vários quilômetros, até desaguar no Mediterrâneo!
A mostra em si é constituída de imagens filmadas, fotografias, mapas, objetos, cartazes, recortes de jornais, pinturas, esculturas, áudios e mais.
São os povos da floresta – Ashaninka, Mebêngôkre (Kayapó), Wayana e Apalai – que tomam a palavra e nos contam a sua visão do mundo e da existência, o seu modo de vida, diversos testemunhos em português e um pouco em espanhol, tudo traduzido, a relação com a água e a vegetação que os cercam, indissociáveis, como numa vida “anfíbia”, as diferentes etnias, os seres que as habitam, seus meios de transporte, muitos pássaros e alguns animais, o artesanato, as vestimentas, os cocares, as cores e a sua simbologia, enfim, todo o universo da maior biodiversidade da Terra, assim como, no final da exposição, a atualidade: os indígenas inseridos na realidade de hoje, as suas lutas para defender os seus direitos e territórios, e a urgente questão do aquecimento global, as mudanças climáticas. A Amazônia em questão – literalmente – é mais brasileira, sim, mas também plural, aquela que diz respeito não somente aos nove países fronteiriços, mas a todo o planeta, na sua infinita complexidade, a vida em mutação cotidiana, permanente, longe dos clichês e fincada no mundo do aqui e agora.
Para concebê-la e montá-la, várias missões de estudo e pesquisa foram enviadas in loco para realizá-la de acordo e em colaboração direta com os habitantes dos inúmeros povoados e a FUNAI. O Estado do Pará, onde acontece em novembro a esperada COP 30 em Belém, em plena Amazônia, é o mais presente. Durante todo o evento, foram, são e serão propostos ateliês, visitas guiadas, palestras e projeções. É imperdível!
A entrada para adultos custa 12€, válida também para as demais exposições. O passe anual do museu é de 23€. O museu abre de terça a domingo, das 10h30 às 18h30, e só fecha em três datas do ano: 1° de janeiro, 1° de maio e 25 de dezembro.
Mais informações: www.museedesconfluences.fr
Foto:
Arrojado, o fabuloso Musée des Confluences foi aberto em 2014